Em 2019 Portela teve a oportunidade de visitar os frescos de OROZCO em Cabanas sobre a chegada dos “hispânicos” à América Latina. A ligação aos murais de Almada Negreiros na Gare Marítima de Lisboa foi imediata e incómoda. Como se olhasse num espelho que mostra o avesso da Historia que nos contaram na escola. Deu por si a imaginar-se num corredor onde, de um lado, está a gare de Alcântara, em Lisboa, que acolheu refugiados na WWII, os soldados regressados da guerra colonial após o 25 de abril, e também a casa das pinturas que Salazar encomendou a Almada para “mostrar a grandiosidade das conquistas portuguesas pelo mundo”.
Do outro lado do atlântico, um Orozco documenta a chegada destes “conquistadores”. Com fogo. Com sangue. Com crucifixos, armaduras e hábitos assustadores.
O objectivo desta instalação é fundir estes dois painéis um no outro, como se pudéssemos entrar num espaço e viver em simultâneo, a partida entusiasta dos barcos portugueses e a chegada desastrosa para quem habita o outro lado do atlântico no mesmo corpo.
Depois do sucesso da retoma do projecto Estaleiro na edição do ano passado, o Segundo Momento do Temps d’Images 2025 dá a conhecer a colaboração colectiva inédita entre José André, mestre dos efeitos especiais para cinema, e Patrícia Portela, escritora, dramaturga e criadora de diversos projectos transdisciplinares, na Appleton.